quinta-feira, 26 de abril de 2012

A função das cotas é tornar toda a pirâmide social acinzentada, em vez do topo ser branco e a base ser preta.



Quantas vezes vamos a um médico e somos atendidos por um negro? São poucas. O número de médicos negros é muito inferior à proporção da população negra.

Será que é normal um Brasil onde só há um negro entre os 11 ministros do STF? Talvez o primeiro da história. Numa reunião de empresários, quantos negros estão presentes? Quantos barões da mídia negros existem no Brasil? Quantos negros tem na diretoria das Organizações Globo? Quantos apresentadores negros tem a Globo? Vamos ver: Faustão não é, nem Jô Soares, Xuxa, Luciano Huck, Pedro Bial, Zeca Camargo, Galvão Bueno ... me ajudem a achar um gente... Ah, tinha a Glória Maria, que não é mais. Nos telejornais tem o Heraldo Pereira. Mas é muito pouco.

Quantas vezes um recrutador de uma empresa, ao entrevistar candidatos a gerente de vendas, receia contratar um negro, mesmo que mais qualificado, até recorrendo à lógica racista "dos outros", se justificando: "Eu não sou racista, mas como vou saber se os clientes que ele vai atender, não é? Pelo sim, pelo não, acho mais seguro contratar um branco".

Tudo isso acontece porque negros com acesso ao curso superior foram minoria esmagadora em relação à brancos. E as raízes do problema são facilmente explicadas num país capitalista, com o passado do Brasil. Foi construído por oligarquias cuja herança das riquezas e do que há de melhor, inclusive em educação, sempre esteve nas mãos dos descendentes de europeus brancos, passando de geração a geração. Se uma das regras para subir na vida no Brasil é através do curso superior, o mínimo que se pode fazer é uma política pública para inserir nas universidade um número de negros mais próximo à proporção que representam na população.

Daí a razão de reservar uma quantidade de vagas específica para a população negra pobre nas universidades.

Enquanto o Brasil todo não se acostumar a ver com naturalidade negros tão presentes quanto os brancos em cargos de chefia e em altas posições da sociedade, as cotas se justificam.

É para acabar de vez com esse resquício racista que existe na segregação da pirâmide social, que são necessárias as cotas. Aliás, não são exclusivas para afro-descendentes, existem também para índios.


Cuidado com a manipulação de informações e lutas inglórias

Os do contra falam que seria injusto o filho de alguém como o Pelé ter direito a cotas. É contra-informação vagabunda. Cotas raciais devem existir dentro das cotas sociais. Obviamente que devem ser para negros que não são filhos de ricos, e sim para estudantes de menor renda que estudaram o ensino médio em escola pública. Quem já está no topo da pirâmide social faz parte de uma minoria que venceu as adversidades, tem acesso às melhores escolas privadas desde à creche e, independente de etnia, não devem ter direito a cotas.

Cotas não eliminam a meritocracia. Os cotistas também disputam vagas entre si por concurso e passam os melhores alunos. É como se os cotistas se inscrevessem num vestibular (ou no ENEM) e os não cotistas em outro.

Dizer que a solução definitiva é a melhoria do ensino fundamental e médio na escola pública é óbvio e ululante, mas todo mundo sabe que isso leva tempo, por maior que sejam os esforços de um governo popular, combatido por uma elite perversa que luta incansavelmente para tirar casquinha nos impostos que sustentam a educação e a saúde pública. Diante disso, nada justifica fazer a população mais pobre (em grande parte afro-descendente), ter que esperar mais do que já esperou para ter o mesmo lugar na sociedade que qualquer outro brasileiro mais rico tem direito. Enquanto melhora o ensino de base, corrige-se as distorções sociais com as cotas. Uma coisa não é conflitante com a outra, pelo contrário, é complementar.

Não há como tapar o sol com a peneira, querendo esconder o racismo escancarado na pirâmide social brasileira. Se há uma clara divisão racial estampada na pirâmide social, não há como contestar as cotas como corretivo.

Não devemos aceitar a provocação e incitação de que as cotas raciais tiram vagas de estudantes brancos, inclusive os pobres. Como já foi dito, devem existir também cotas sociais, independente de etnia, enquanto forem necessárias, mas o mais importante é que a boa luta política deve ser canalizada pela ampliação de vagas no ensino superior, que atenderá a todos os brasileiros de todas as etnias, e não ficar brigando pela continuidade de um ensino superior restrito e elitista onde quase não se via negros. Chega de aceitar viver num país desigual e injusto, chega da separação entre casa grande e senzala.




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